Teobaldo Cruz da Silva, Telinho Coxo para toda a vizinhança, era conhecido como o tipo com menos jeito para tratar uma bola de futebol em todo o bairro. E arredores conhecidos. Como marido e pai, era de um esmero e carinho impares. Como individuo, não havia outro mais honesto, integro e amigo do seu amigo. E de alguns que se vieram a revelar não tão amigos, todos perdoados à conta do seu coração desmesurado.
Telinho nutria desde o berço uma paixão assolapada, irracional e incontrolável, pela ARCAB – Associação Recreativa e Cultural “Amigos deste Bairro”, em cujos escalões de formação deixou a sua marca: titular desde as escolinhas até aos juniores. Quando se viu perante um treinador estrangeiro, isto é, de outro bairro, no seu primeiro ano de sénior, deu-lhe um grande abraço e disse-lhe:
- Venham de lá esses ossos, míster. Enquanto usar esse emblema ao peito, tem aqui um pau para toda a obra. Logo que não nos ponha a perder, está claro. – E procedeu a dar mais 20 voltas ao relvado do que o resto do plantel. No mesmo tempo cronometrado.
Ganhou nesse dia o seu lugar no onze e nunca mais de lá saiu. É certo que o jeitinho para a bola também não melhorou, mas mais ninguém jogava por amor e, assim, Telinho foi consecutivamente nomeado o “Melhor Jogador” de todos os campeonatos interbairros.
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O próximo jogo do campeonato não é um jogo qualquer. Quer dizer, para nós, adeptos do FCP, não é. Podem chamar-lhe o que vos apetecer, usando a imensa paleta de complexos que gostam de nos colar, a Sul. A gente quer lá saber. É contra o Benfica e é para ganhar nem que seja com 8, 2 dos quais com uma perna partida.
O FCP não mudou toda a equipa na Madeira, teve que fazer mais 30 minutos – por culpa da sua própria ineficácia – num terreno muito pesado. Corona, Taremi, Pepe e Sérgio Oliveira jogaram o tempo todo. Já o SLB voltou à Reboleira – as saudades que eu tenho daquele campo (estádio foi só depois, mas isso é outra estória) – com um 11 todo novinho, gerindo, e bem, o plantel e preparando o grande jogo do Dragão. Vantagem de lá? Pois claro.
Só que o FCP entra em campo com mais adeptos do que qualquer outro clube, tirando o ARCAB. Esse é o grande mérito e o grande legado de Sérgio Conceição, de quem discordo amiúde: ter-nos devolvido esta sensação de que, se for preciso, Sérgio Oliveira corta a bota e pinta a meia de preto e joga com um dedo partido. Que Otávio cresce cerca de um metro, em alto e largo, de cada vez que veste o manto abençoado. Esta vantagem não há contingência que nos roube. Não é querer e crer muito, que isso os adversários também têm, é fazê-lo com mais, e por mais, Amor. Jogar com mais adeptos em campo, encarnando o espirito daqueles que não poderão estar nas bancadas.
Estamos para lá da qualidade, mesmo que Telinho Coxo não tivesse lugar no atual plantel do FCP. Estamos para lá do cansaço, do espirito de equipa e de sacrifício. É por isso que eu parto sempre confiante para os jogos. Porque acho que os meus amam mais do que os outros. Sei que eu amo. Cincazero, vamos!